Instantes suspensos
Exposição coletiva SET 2025
Galeria BASE
Rua Artur de Azevedo, 493, Pinheiros, São Paulo - SP
Na música, os instantes suspensos designam momentos em que a experiência temporal é interrompida ou dilatada — seja pela sustentação de notas e acordes, pela ressonância inacabada ou pela permanência do silêncio. Trata-se de uma condição liminar entre expectativa e repouso, que evidencia a escuta como experiência ativa, carregada de sentido. Essa experiência, embora sonora, encontra paralelos na vivência cotidiana: instantes que, por sua natureza transitória, tendem a se dissipar no próprio ato de sua aparição. Habitar um instante é reconhecer sua transitoriedade. Sua peculiaridade de se esvair, antes mesmo de ser apreendido, parece tornar esse intuito um paradoxo. Seria mesmo possível erigir um abrigo para o efêmero? Um lugar onde o silêncio se converta em presença e convoque à contemplação?
Julia da Mota, Lucia Glaz e Natália Guarçoni reúnem poéticas nas quais essas indagações se convertem em pintura. Trabalhos que propõem um espaço de acolhimento para aquilo que, por essência, é fugaz: pausas que interrompem o fluxo do tempo, silêncios que se tornam matéria. São refúgios em que o transitório e o fugidio se convertem em permanência sensível.
As pinturas geométricas apresentadas, construídas majoritariamente em tons pastéis e acinzentados, instauram uma atmosfera de suspensão e delicadeza. Em sua aparente concisão, revelam uma gramática de linhas, planos e ritmos que se sucedem como respirações: nem bruscas, nem definitivas, mas em latência constante. Nelas, a geometria não é imposição rígida, mas um campo aberto em que as cores se diluem, as formas borram seus limites e os planos se deixam atravessar pelo tempo.
Guarçoni e da Mota compartilham uma intimidade singular com a arquitetura. Suas pesquisas dos limites entre a transparência e o rigor constroem paisagens erigidas em sutis camadas, que abrem fendas para o entendimento do que lhes é íntimo. Suas formas translúcidas tensionam a passagem entre o visível e o invisível, evocam metamorfoses naturais e insinuam portais de luz ou bruma.
As pinturas de Lúcia Glaz, por sua vez, inscrevem-se numa tradição que compreende a cor não como mero atributo físico, mas como experiência sensível em transformação. Sua pesquisa parte de um rigor construtivo, mas o transcende, acolhendo a dimensão subjetiva.
Tanto em Glaz, quanto em da Mota e Guarçoni, a cor não é superfície estável, mas fenômeno perceptivo que se expande e se contrai conforme o olhar se demora. Nesse contexto, linhas e planos não se afirmam como fronteiras, mas como passagens. Ritmos suaves instauram pausas prolongadas, e a geometria revela-se permeada pela delicadeza do efêmero. Cada trabalho configura-se como morada provisória do instante, onde cor e espaço se entrelaçam como matéria viva.
Na suspensão desses instantes, o olhar repousa em silêncio. Cada obra nos devolve a experiência de um tempo dilatado, nos convidando a demorar-se entre um gesto e outro, onde o rigor se dissolve em suavidade e a presença se transforma em permanência.
Julia da Mota, Lúcia Glaz, Natália Guraçoni
Texto:
Priscyla Gomes
fotografias por Vitor Galvão
A Cidade Sou Eu
Exposição coletiva ABR 2025
OÁ Galeria
Av. Cézar Hilal, 1180 - Lj 9, Vitória - ES
“A Cidade Sou Eu” é um convite a conhecer Vitória para além de suas ruas, prédios e paisagens familiares. A exposição propõe um olhar sensível sobre a produção artística recente de jovens que habitam e experimentam a cidade, revelando como o espaço urbano se entrelaça com as subjetividades, transformando-se em território de narrativas pessoais.
Curadoria de Thais Hilal, a mostra reúne 10 artistas capixabas que compartilham suas produções recentes. Vitória é uma cidade de contrastes — entre o antigo e o novo, o mar e a terra, o natural e o construído — e essas dualidades se manifestam nas obras que compõem a exposição.
A diversidade de técnicas, que vão da escultura, desenho, fotografia, instalação à pintura, e o uso de materiais que transitam do delicado, como tecido e vidro, ao robusto, como aço, ressaltam as múltiplas relações entre indivíduo, cidade e arte. Cada intervenção artística é um gesto de apropriação em que a cidade se torna extensão do próprio ser.
A curadoria enfatiza que Vitória é feita pelas múltiplas identidades que a habitam — as vivências e perspectivas desses artistas que atravessam e são atravessados pela cidade. Conhecer suas obras é também ampliar o olhar sobre o que significa viver e criar neste território.
As obras expostas são cartografias sensíveis de um território fluido, onde memórias individuais se fundem à história coletiva. A cidade se reflete em seus habitantes, assim como seus habitantes deixam marcas — visíveis ou intangíveis, permanentes ou efêmeras — na paisagem urbana. Mais do que um lugar físico, a cidade revela-se como espaço de afetos e invenções, em constante metamorfose. Nas obras, Vitória emerge como um território de possibilidades — uma paisagem que pulsa, se desfaz e se refaz.
O percurso da exposição percorre diferentes camadas desse encontro entre corpo e espaço urbano: memórias inscritas nas ruas, sensação de pertencimento, reconhecimento de si no ambiente construído e futuros possíveis. “A Cidade Sou Eu” celebra a potência criativa das novas gerações de artistas capixabas e convida a refletir sobre a construção de novas configurações urbanas que priorizem o bem-viver coletivo.
Ana Luzes, Barbara Carnielli, Juliana Morgado, Maria Tereza, Natália Guarçoni, Natan Dias, Re Henri, Renato Ren, Richard Fiorio e Thiago Sobreiro
Curadoria:
Thais Hilal
fotografia Bruno Coelho – @fstillfotografia
Clube do Colecionador
MAIO 2024
OMA Galeria
R. França Pinto, 1100 - Vila Mariana, São Paulo - SP
O Clube do Colecionador reúne seis artistas, cada um entregando individualmente sua produção através de um coquetel expositivo.
As obras de Natália foram dispostas em uma grande mesa, alinhadas como páginas de um livro fragmentado — uma narrativa aberta, onde cada fragmento-poesia convida à leitura e à contemplação. Essa organização reforça a ideia de que as Notas são partes de um todo maior, um mosaico de pensamentos que se completam na experiência do espectador.
Cada Nota reflete a essência da artista: a busca pelo silêncio em meio ao ruído cotidiano, a contemplação da impermanência, e o valor dos pequenos gestos e sensações que definem a existência humana. O uso do espaço em branco, a simplicidade e a textura visual expressam a filosofia minimalista e o olhar sensível de Natália, inspirados pelo conceito japonês de shibui.
Este projeto convida o público a uma imersão poética, onde o fragmentado revela a profundidade do instante vivido e a multiplicidade de sentidos possíveis.
Jardim de Fragmentos
Exposição coletiva OUT 2024
GALERIA OZLO
Av. Rio Branco, 1305, Praia do Canto, Vitória - ES
“A Cidade Sou Eu” é um convite a conhecer Vitória para além de suas ruas, prédios e
“Jardim de Fragmentos” reúne obras e poesias de Natália Guarçoni e Liliane Emília e se propõe como um oásis de reflexão e contemplação do que se mantém eterno em meio ao caos do mundo. O abundante uso de pedras remete, não coincidentemente, aos jardins japoneses, evocando a beleza e a imperfeição como ícones da transformação e da passagem do tempo.
Os textos e poesias, matéria-prima das obras, trazem à memória os haikais, tradicional forma poética japonesa que captura a essência de um momento fugaz, mirando o imutável no que é transitório. Vivemos uma época de esvaziamento do sentido do ser, em que enxergar beleza no ordinário torna-se quase revolucionário. Esse é o fio condutor das obras das artistas, evocando a simplicidade, a efemeridade e o exercício do olhar para dentro, que se entrelaçam e convidam o público a entrar no jardim, não para sair o mesmo ser, mas para emergir como um outro que se reconhece mais e melhor na consciência e no tempo que habita.
Artistas:
Natália Guarçoni e Liliane Emília
Fotografias Fabrício Saiter
E o mundo (não) se acabou
Exposição coletiva AGO 2024
Espaço Cultural SESI
R. Tupinambás, 240, Jardim da Penha, Vitória - ES
Cientistas e místicos buscam entrar em consenso sobre quando se dará o fim do mundo. A urgência climática é o fio de Ariadne com o qual Luciana nos faz ver o insuportável: para ver o fim, é preciso olhar para trás. Sua hábil mistura de técnicas nos apresenta a densidade do que resta — não a título de lamento, mas de contemplação de um mundo outro, que se inicia pelos restos incinerados.
É preciso recolhê-los.
Antes, sente-se! Descanse. É preciso para amparar e reparar. As feridas estão abertas no trabalho de Paulo. Com domínio artístico incomum sobre metal, sua opção por uma saída à Fontana tem a dupla intenção de mostrar que os corpos ainda sangram e abrir espaço para que o sangue se faça verbo. Afinal, o mundo é um outro e devemos ser capazes de compreender o que se insinua. Quem responderia à pergunta “e se…”? Samira arremata com o barro da terra: “…fosse feminino”? Essa é a aposta de reconstrução, do fogo que Luciana lança sobre as matas, Samira se vale para a queima da mulher primeira. Seu nome é Maria, regente deste mundo que você habita, onde essa exposição acontece. Generosa, nos lega o livro de seus segredos e porque são segredos, ali não estão. Há espaço para esse novo mundo acontecer, sem prescrições de comportamentos. Sem olho por olho. Sem dente por dente.
Talvez você ainda se veja no mundo que já foi queimado mas, ao acordar do sonho, se lembrará: por esse método também se dá a construção de uma memória — que transforma — e que se pretende coletiva.
Somente Natália poderia capturar um novo fazer de Mnemosine. Os sedimentos, feito aluvião, não se depositam em uma memória individual, constitutiva de uma racionalidade humana; agora, um-a-um, os indivíduos se agregam na formação dessa memória que transborda, fazendo laço entre materialidades, espacialidades e sentimentos.
Agora pode acordar. O que você vê? Sim, é você. Veja como é nesse novo mundo. Isso, você sou eu! Agora nós nos vemos. Eu sei, há um estranhamento. É por isso que Milena se propõe a nos mostrar tudo aquilo que agora podemos ver e por onde podemos ver. Esse percurso se encerra com um convite amoroso que só se fez possível com a escolha de Milena pelo suporte dos espelhos: ali onde somente nos víamos, agora vemos a outra. O sujeito é abandonado em detrimento da pessoa, categoria coletiva e articulável, intervalo entre corpo e memória, que se transformam e transbordam.
Memória que transforma
Transborda sem perceber
Ouve esse som? Sim, você segue sonhando. O farfalhar do que restou da mata seca, a recolha dos restos em grandes peneiras fazem verdadeiros filtros dos sonhos. Richard emprega toda sua sensibilidade e retém o que ainda persiste, evitando sua passagem ao estado de vigília. Enquanto ainda sonha, perceba que o que se pronuncia são os giros. Cada obra de Richard nos convida a mudar a perspectiva: uma nova volta, um novo olhar. Até que o torpor nos eleve à condição de habitantes desse novo mundo.
Na volta derradeira, Marta nos introduz a novos agrupamentos. Famílias passam a se ordenar pela partilha, pela comunhão, não mais pelo consumo — entregue, feito oferenda, aos pés do último dos deuses do antigo mundo. É Marta quem percebe a nova partilha material como base das relações que ocorre por aglutinação.
Artistas:
Luciana Duarte
Marta Monteiro
Milena Almeida
Natália Guarçoni
Paulo Kunsch
Richard Hoey
Samira Pavesi
Curadoria: Vitor Burgo
Produção: Marcela Mattos
TEMPO
Exposição coletiva OUT 2023
GALERIA OZLO
Av. Rio Branco, 1305, Praia do Canto, Vitória - ES
Na exposição TEMPO, as nuvens — geométricas, sólidas, transparentes ou quase invisíveis — deixam de ser meros símbolos climáticos para se tornarem potentes representações do tempo cronológico. Para Natália Guarçoni, observar o comportamento do tempo é um caminho para a consciência e uma ferramenta fundamental para alcançar uma vida longa, independente da duração que nos seja concedida.
“A vida não é breve, ela é suficiente.” — Sêneca
A obra ‘Vida’ é o testemunho central da mostra, um tributo à riqueza dos momentos vividos e à profundidade das experiências que moldam nossa existência. Composta por um conjunto de trabalhos da série Momentos Concretos, cada peça representa um instante de presença genuína — quando abandonamos a repetição automática da rotina e nos entregamos plenamente ao presente.
As obras dessa série capturam instantes de presença plena, nos quais cada detalhe é vivido com intensidade e clareza. É um mergulho na textura dos momentos, pensamentos e sensações que se desenrolam como uma narrativa silenciosa, mas marcante em nossa própria história. A artista nos lembra que a vida não é medida apenas pelos anos, mas pela autenticidade dos momentos que experimentamos.
Na série Memória, o tempo se revela como um fio tênue entre o vivido e o que se desvanece. As memórias desaparecem gradualmente, deixando para trás uma sombra — uma impressão profunda que ecoa no íntimo de nossa existência. Essa sombra não é uma reprodução fiel do passado, mas uma interpretação única, moldada pelas cores de nossa perspectiva e pela lente pela qual enxergamos o mundo.
Memória simboliza o controle que temos sobre como interpretamos nossas experiências. Convida o espectador a entender o passado não como prisão, mas como um caleidoscópio em constante mutação, onde a beleza reside na fluidez das interpretações e na abertura para múltiplas possibilidades.
A obra Chuva personifica o impacto transformador do tempo em nosso amadurecimento. Com o passar dos anos, nossa visão do mundo se amplia e as cargas emocionais, antes pesadas, tornam-se mais leves. Um processo gradual de evolução que nos permite enfrentar adversidades com mais serenidade e compreensão.
Por fim, a série Passageira reflete nossa existência efêmera e a relativa ausência de controle sobre o fluxo do tempo. Cada obra é um convite a contemplar a impermanência — essa força universal que molda nossas vidas. As nuvens passageiras não apenas simbolizam a transitoriedade, mas inspiram a beleza que reside nessa efemeridade, lembrando-nos que a brevidade da vida é que confere valor e significado às nossas experiências.
Essa consciência da unicidade e irrepetibilidade de cada momento nos leva a uma profunda apreciação do presente.
fotografias Fabrício Saiter
RECORTES
Exposição individual MAR 2023
PAREDE Galeria
R. João da Cruz, 200 - Praia do Canto, Vitória - ES
“A Cidade Sou Eu” é um convite a conhecer Vitória para além de suas ruas, prédios
Na exposição intitulada Recortes, Natália Guarçoni propõe um caminho que vai muito além do que se percebe à primeira vista, por meio de pinturas delicadas, minuciosos recortes, colagens e montagens em papel e linho.
São obras minimalistas em que formas e contornos permitem que luzes e sombras preencham vazios, criando atmosferas de dramaticidade e revelações sutis. As cores secas, muitas vezes neutras, são uma das marcas de sua produção — uma busca por sensações de calma e conexões profundas, distante dos tons vibrantes.
Inspirada pela natureza e pelos elementos e materiais da arquitetura — sua formação inicial —, sua arte é um convite à reflexão e à ruptura do pensamento linear, conduzindo o olhar a novos caminhos.
“Palavras como tijolos na construção de pensamentos.”
Nas séries Tijolos e Notas, a artista toma posse de um livro antigo (Três Contos de Gustave Flaubert, edição 1974) e cria uma nova poética a partir de recortes e rearranjos dos textos. A cada página, o excesso de palavras é retirado para dar lugar a uma construção simplificada e profunda.
Em Tijolos, palavras recortadas flutuam sobre o empilhamento das que foram subtraídas, formando uma imagem que remete a uma parede de tijolos. Já em Notas, Natália recria a figura de uma folha de papel por meio de ranhuras, pintura e textura, construindo, com a colagem das palavras, pensamentos que se dispersam ao longo dos traços.
“O pouco é suficiente, o vazio preenche.”
Na série Janelas, Natália convoca à auto-observação, propondo um olhar curioso por meio de pinturas, molduras em linho e papel, e pequenas maquetes que “enquadram” paisagens. Os planos de profundidade criados pela sobreposição ocultam parte das imagens, despertando no espectador a curiosidade e a necessidade de aproximação — um deslocamento do olhar do exterior para o interior.
“A vista é para dentro.”
Guiada pela simplicidade e atenção aos detalhes, Natália investiga sentimentos por meio das palavras e das sensações que emergem de seus delicados gestos. Suas obras convidam o espectador a desconectar-se do próprio caos e embarcar em uma viagem em busca de quietude, clareza e silêncio.
Curadoria: Ivana Izoton
fotografias Fabrício Saiter
.